Abro agora a boca: em minha garganta fale a minha língua.
Meus discursos provêm de um reto coração e meus lábios proferirão com pureza o que eu sei.
Foi o espírito de Deus que me fez e o sopro do Poderoso me deu a vida.
Contesta-me, se podes; prepara-te diante de mim e toma posição!
Também eu, diante de Deus, sou como tu, também eu, extraído do mesmo barro.
Por isso, não tenhas medo de mim, nem te esmague o meu peso.
Pois disseste aos meus ouvidos, e ouço ainda o eco de tuas palavras:
Sou puro e sem delito, sem mancha, e não há iniqüidade em mim.
Contudo, porque encontrou pretextos contra mim, † Deus me considerou seu inimigo; prendeu meus pés no cepo e vigiou todas as minhas veredas. ’
Pois é nisto que estás errado, digo-te eu, porque Deus é maior que o ser humano.
Por que motivo discutes com ele, pelo fato de não responder-te palavra por palavra?
Deus fala uma só vez, e não repete segunda vez a mesma coisa.
Em sonho ou em visão noturna, quando o sono profundo cai sobre as pessoas adormecidas em seu leito,
então lhes abre os ouvidos e as atemoriza com aparições.
Isto, para afastar o mortal daquilo que está para fazer e livrá-lo do orgulho, impedindo sua alma de cair na cova e sua vida, de cruzar o canal da morte.
Deus o corrige também no leito, com o sofrimento, quando os ossos tremem sem parar, a ponto de, mesmo em vida, ele detestar o pão e ter repugnância pelo alimento antes apetitoso.
Sua carne se consome à vista de todos, e os ossos, que antes não se viam, aparecem; ele se aproxima da podridão da cova e sua vida, das paragens da morte.
Se comparecer junto dele um anjo, um intérprete entre milhares, para anunciar ao ser humano o que convém, para dele ter compaixão e dizer a Deus: ‘Livra-o, para que não desça à cova, pois achei motivo para ser-lhe propício. ’
Então seu corpo recobrará a seiva juvenil, e ele voltará aos dias da sua mocidade.
Suplicará a Deus, e Deus lhe será propício; e verá com alegria a sua face, a face de quem ao ser humano faz justiça.
Então cantará, diante de todos, dizendo: ‘Eu tinha pecado, violei a justiça, mas não fui submetido ao castigo.
Ele me livrou do caminho da cova para que, vivendo, pudesse ver a luz! ’
Pois Deus faz todas estas coisas duas e três vezes, com o ser humano, para retirá-lo vivo da cova e iluminá-lo com a luz dos viventes.
Presta atenção, Jó, e escuta; cala-te, enquanto eu falo.
Se, porém, tens o que dizer, responde-me; fala, pois quero que apareça a tua justiça.
Se não, escuta-me; cala-te, e eu te ensinarei a Sabedoria”.
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